sábado, 31 de janeiro de 2009

Acho que lá no fundo ele sabia que todo mundo sabia que o motivo do esconso era vergonha. E por ali ele foi ficando quando era cada vez mais claro que as pessoas agradeciam sua ausência pelo mundo a fora. Ele não tinha muito que oferecer paras pessoas mesmo... Sempre foi um menino chato que quebrava os brinquedos de todo mundo da rua na infância.
E conforme o tempo passou, a estrutura que chamamos de família desse garoto foi se dissipando. O pai foi-se embora com outro homem, manchando a dignidade do sobrenome da família e a mãe não agüentou e foi-se também pra outro plano melhor que o nosso. O irmão vagou pela cidade descobrindo a saliência e a bebedeira até que um dia sumiu também.
O garoto cresceu... Sozinho mesmo, sendo ajudado por vizinhos até descobrir o poder que tinha com a dinheirama que lhe sobrara. Era dinheiro pra dar com pau!
Depois de crescido ele não esqueceu dos que o socorreram na meninice. Deu uma quantia em moedas pra cada um e quando estavam quites tratou de estabelecer uma apatia severa entre ele e o resto do mundo.
No começo ninguém deu muita importância pro rapaz:
“Isso é trauma sentido agora. Quando ele chorar o resto da dor, vai passar.”

“No desassossego do meu lar, eu venho e vou sem sair do meu lugar”
Era a única coisa que se ouvia daquela porta. Ele jamais saira depois do carnaval de 78. Nunca mais pisou na rua e a paisagem que via era a mesma há cinco exatos anos.
Fez adaptações na casa pra não ter que encontrar com ninguém quando chegada a hora da comida, produtos de limpeza ou roupas novas. Menos por conta de roupas novas do que do resto porque dizia gostar dos velhos trapos mesmo, o cheiro era mais real. Enfim, ele tinha dinheiro pra essa baboseira toda. Gente com menos condição não pode se dar ao luxo de não querer mais sair de casa pra nada.

E ainda tem gente que diz que psicologia é coisa séria!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pacu despedaçado

O sangue sempre amarela

o sangue de cada um tem a mesma valia
tú só tem o direito de pedir o sangue que perdeu
quem ultrapassa esse direito
paga dobrado
em vida, ou em outra


E a vida se divide
quando é chegada a hora do sangue descansar
a faixa preta indica a esperada

E a moça foi deixada
lá pra depois da estrada
que apareceu como sereia, encharcada de amor

Pacu despedaçado
Acabou, homem
acabou tudo

domingo, 25 de janeiro de 2009

Não é sobre o amor.

Isso não tem muito haver com o amor. São os cacos doloridos da decisão, se for ela o silêncio... Que pede força mental maior do que em qualquer outro ferimento. Ignore, se for possível. Se a prematura braveza for a decisão, repense. Falsa postura é dor maior. Não pode evitar-se entrar em contato com a fraqueza. É massiva a ligação entre a saudade e a miudeza da mágoa. O que torna as coisas mais difíceis, quando a mágoa é mesmo miúda perto da maldição do apaixonado.
Vai ser perseguido pelo remorso da paixão. Maldita. Encantadora. Fria e esquisita. Não se tem outro assunto que rodeia o iludido. Demente aquele cheio das boas intenções, repartido por vontades das mais diversas inquietudes insaciáveis que são os desejos carentes do... apaixonado. O esforço é constante para não se parecer só um idiota, mas ser um idiota bem sucedido na melancolia das promessas, juras e feitos singelos, mas que se parecem muito com mancadas que damos na infância. Quando não se percebe que não foi obtido o sucesso esperado, o desespero. A sensação de que a vida se engana de si por todos os lados é presente e trás consigo desejos irreparáveis de que nenhum sentimento é a prova d’água e que o coração não é mais um esconderijo fiel e sim um grande parque de diversões desses que têm nos filmes de terror onde cada rosto esconde uma careta dolorida de um escândalo passado qualquer. Todos os aspectos da estória são motivos de profunda reflexão própria. E na medida em que uma coisa trás a outra a apatia aparece. Por pessoas desconhecidas que de alguma forma despertou no outro qualquer interesse de vínculo. A agonia toma conta e vão surgindo então várias formas de azar, coloridos e sem cheiro. Dá um azar enorme compará-los.
E a percepção de amor começa daí a ser definida. Mas isso tudo não tem nada haver com o amor. Talvez o amor nos queira dizer outra coisa. Mas quem se importa?! A essa altura do campeonato lobos estão papando galinhas de montão. E ninguém tem mais o controle de nada.
Só que nada disso foi real, e ainda assim trouxe uma dor pra lá de verdadeira. Porque foi sentida. Quando nada nem ninguém mais importam e você fingiu estar ocupado com os desgostos do seu passado, que inclusive toma mais conta do seu presente do que o almoço. Deus, que bobagem! Você se torna inacessível e vai achando essa atitude genuína, você está forte demais.
Mas não foi o bastante, a ligação ainda é massiva e não existe, ainda, uma forma alcançável de fugir da paixão pelo agressivo.